"Mandela: A Critical Life", do analista político Tom Lodge, pode
provocar alguma surpresa com o retrato humano que traça e as ocasionais
críticas brandas feitas a um homem visto por muitos no mundo como um
santo secular.
Entretanto, como a humildade é uma de suas
qualidades mais cativantes, parece pouco provável que Mandela, que em 18
de julho completa 88 anos, faça alguma objeção ao livro.
"Na
corte e na escola, Mandela aprendeu princípios de etiqueta e de
cavalheirismo que continuaram a ser preceitos importantes para ele ao
longo de sua vida pública", escreve Lodge, que é professor de estudos de
paz e conflito na Universidade de Limerick, na Irlanda, e comentarista
de assuntos sul-africanos há anos.
"A ausência de contatos
intimidadores ou humilhantes com brancos em sua infância é importante e,
até certo ponto, diferencia sua infância da de muitos outros
sul-africanos."
A atenção que o autor dedica à infância de
Mandela e a importância dela para o desenvolvimento posterior do
político diferencia o livro de outras obras sobre Mandela, que tendem a
focalizar seu ativismo na vida adulta e os anos que ele passou na
prisão.
Nascido num clã de conselheiros reais de um chefe de
importância maior, Mandela cresceu num mundo de tradições sociais
rígidas, o que ajuda a explicar seu respeito pela autoridade e as boas
maneiras.
DISCIPLINA
O internato metodista em que estudou pode lhe haver conferido a disciplina que o distinguiu pelo resto da vida.
Lodge descreve que, na instituição metodista de Healdtown, onde Mandela
estudou, "as relações entre os docentes brancos e negros eram pelo
menos formalmente respeitosas".
Esse espírito seria encontrado
também na Universidade de Witwatersrand, onde Mandela estudou direito e,
na década de 1940, entrou em contato com radicais brancos.
Ele
se interessou pelo nacionalismo africano e, num primeiro momento,
desconfiou dos comunistas, aos quais acabou aderindo como parte da luta
multirracial unida contra o apartheid.
Sua crença no
multirracialismo, na década de 1950 -- a época em que o Partido
Nacional, que chegara ao poder em 1948, estava endurecendo as leis do
apartheid -- se tornaria um tema dominante em sua carreira política com o
Congresso Nacional Africano (CNA).
Lodge relata e procura explicar a ascensão de Mandela à condição de superastro no palco mundial.
É uma condição que ele goza até hoje, quando, aposentado mas muito
ocupado, seu ativismo se estendeu para abranger a luta pela
conscientização da Aids. Seu legado chegou a ser celebrado numa série de
quadrinhos.
Mesmo durante os anos iniciais de seu ativismo em
Johanesburgo, as mulheres se sentiam atraídas por Mandela devido a seu
calor humano e sua aparência física, que chamava a atenção.
"Com
1,93 metro de altura, Mandela, no contexto dos anos 1940, era
literalmente um gigante. O charme era outra de suas qualidades
cruciais," escreve Lodge.
Sua fama mundial seria intensificada
pelos 27 anos de cárcere que começaram em agosto de 1962 -- décadas que
coincidiram com o auge do movimento pelos direitos civis nos EUA, a
descolonização da África e outras ondas de protesto social.
Também foram as décadas marcadas pela ascensão da televisão e do
estrelato de celebridades. Através de tudo isso, Mandela permaneceu
jovem na percepção pública, devido a seu ativismo anterior à prisão e a
suas fotos dessa época.
SEMELHANTE A CHE
Embora Lodge
não faça essa comparação no livro, a imagem de Mandela era, sob alguns
aspectos, semelhante à do legendário revolucionário cubano Che Guevara.
"O encarceramento manteve Mandela jovem e militante. As imagens também
foram muito importantes no processo de mitologização de Che. Ambos foram
ícones da geração dos anos 1960 e, mais tarde, de jovens de todos os
tipos", disse Lodge à Reuters, respondendo a perguntas por e-mail.
A estatura de Mandela cresceu ainda mais quando ele perdoou seus
antigos opressores e carcereiros, conduzindo seu país à democracia e
tornando-se seu primeiro presidente negro.
Fonte Uol : Link
Nenhum comentário:
Postar um comentário