Nelson Mandela é um dos líderes políticos mais conhecidos e respeitados
do mundo. A pessoa que leva esse nome é considerada um herói de seu
tempo, uma das grandes figuras da História do século XX. Os quase
trinta anos de prisão que passou junto com outros líderes de sua geração
deram origem ao mito da criação da “nova África do Sul”. Sua vida foi
apresentada em inúmeras publicações, de biografias a artigos em
revistas, de filmes comerciais a documentários para TV, de livros em
edições de luxo a suplementos de jornais, de canções de liberdade a
poemas de louvor, de websites institucionais a blogs pessoais. Mas,
quem ele realmente é? O que ele realmente pensa?
Conversas que tive comigo é a radiografia de um ícone que,
aqui, se mostra uma pessoa comum, com suas inseguranças, temores,
dúvidas e insatisfações. A obra oferece aos leitores acesso ao Nelson
Mandela por trás da figura pública, a partir de seu arquivo pessoal,
composto desde rascunhos de cartas e discursos a anotações pessoais,
rabiscos feitos durante reuniões, notas em diário, relatos de sonhos e
até registros de peso e pressão sanguínea e listas de afazeres.
O projeto do livro teve origem em 2004, na inauguração do Centro Nelson Mandela de Memória e Diálogo. Conversas que tive comigo
só foi possível, entre outras coisas, por conta do empenho da equipe de
pesquisadores da fundação, que fez um impressionante trabalho de
recuperação dos documentos – muitos perdidos ao longo dos anos ou
retidos por carcereiros. Mas, esse livro de memórias aconteceu,
principalmente, por causa do próprio radiografado, um obsessivo
arquivista e produtor de registros. Senão, como explicar suas anotações
diárias feitas nas viagens pela África em 1962, ou os cadernos de
rascunho da maioria de suas cartas nos anos de prisão, ou a agenda
repleta de observações e compromissos metodicamente assinalados?
Conversas que tive comigo está dividido em quatro partes: a
primeira, reúne as cartas da prisão, datadas de 1969 a 1971; a segunda
reproduz conversas gravadas em encontros informais e íntimos. São 50
horas de conversas com Richard Stengel, quando os dois trabalhavam no
livro Longo caminho para a liberdade, e cerca de 20 horas com
Ahmed Kathrada, que foi sentenciado junto com Mandela e outros seis
condenados à prisão perpétua em 12 de junho de 1964; a terceira parte do
livro traz os cadernos mantidos por Mandela. Estão lá os registros de
sua viagem pela África e Inglaterra, as notas sobre o aprendizado de
táticas revolucionárias e de guerrilha, a busca de apoio de líderes de
países que tinham conquistado a independência recentemente e outras
anotações anteriores à sua ida para a prisão. Outros cadernos,
posteriores à sua libertação, contêm reflexões pessoais, relatórios de
reuniões e rascunhos de cartas, entre outras anotações; a quarta parte,
por fim, é composta por uma sequência inacabada de Longo caminho para a liberdade.
A ideia de uma possível continuação do livro acabou caindo por terra
por conta de suas obrigações como presidente da África do Sul e vários
outros compromissos.
Em meio a todo esse material estão desde anotações em agendas que
sinalizavam a rotina na prisão até cartas como a endereçada à
Universidade da África do Sul, de 1987, em que Mandela pedia a isenção
de uma disciplina (enquanto estava na prisão, ele continuou seus estudos
e obteve o diploma em Direito em 1989) e emocionantes relatos como a
carta que escreveu a suas filhas Zeni e Zindzi, sobre a prisão da mãe
delas – e então sua segunda mulher, Winnie – em 1969, e o quanto elas
teriam que amadurecer e ser fortes na ausência dos pais: “Mais uma
vez sua querida mamãe foi presa e agora ela e papai estão na cadeia.
Meu coração sangra quando penso nela sentada numa cela policial longe de
casa, talvez sozinha e sem ter alguém com quem conversar e sem nada
para ler” , relata. Sobre carta dirigida desta vez a Winnie,
Mandela escreve depois de saber da morte do filho dele, Thembi, em um
trágico acidente: “minha mente e meus sentimentos estavam agitados
pela percepção das tensões que minha ausência de casa havia imposto a
meus filhos.”
Num relato direto e absolutamente pessoal, Mandela brinda o leitor com
impressões, pensamentos e sentimentos que revelam o todo de um homem
comum e, ao mesmo tempo, fascinante.
Fonte Rocco: Link
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