domingo, 8 de dezembro de 2013

2010 - Livro - Conversas que Tive Comigo

 

Nelson Mandela é um dos líderes políticos mais conhecidos e respeitados do mundo. A pessoa que leva esse nome é considerada um herói de seu tempo, uma das grandes figuras da História do século XX. Os quase trinta anos de prisão que passou junto com outros líderes de sua geração deram origem ao mito da criação da “nova África do Sul”. Sua vida foi apresentada em inúmeras publicações, de biografias a artigos em revistas, de filmes comerciais a documentários para TV, de livros em edições de luxo a suplementos de jornais, de canções de liberdade a poemas de louvor, de websites institucionais a blogs pessoais. Mas, quem ele realmente é? O que ele realmente pensa? 


Conversas que tive comigo é a radiografia de um ícone que, aqui, se mostra uma pessoa comum, com suas inseguranças, temores, dúvidas e insatisfações. A obra oferece aos leitores acesso ao Nelson Mandela por trás da figura pública, a partir de seu arquivo pessoal, composto desde rascunhos de cartas e discursos a anotações pessoais, rabiscos feitos durante reuniões, notas em diário, relatos de sonhos e até registros de peso e pressão sanguínea e listas de afazeres. 

O projeto do livro teve origem em 2004, na inauguração do Centro Nelson Mandela de Memória e Diálogo. Conversas que tive comigo só foi possível, entre outras coisas, por conta do empenho da equipe de pesquisadores da fundação, que fez um impressionante trabalho de recuperação dos documentos – muitos perdidos ao longo dos anos ou retidos por carcereiros. Mas, esse livro de memórias aconteceu, principalmente, por causa do próprio radiografado, um obsessivo arquivista e produtor de registros. Senão, como explicar suas anotações diárias feitas nas viagens pela África em 1962, ou os cadernos de rascunho da maioria de suas cartas nos anos de prisão, ou a agenda repleta de observações e compromissos metodicamente assinalados? 


Conversas que tive comigo está dividido em quatro partes: a primeira, reúne as cartas da prisão, datadas de 1969 a 1971; a segunda reproduz conversas gravadas em encontros informais e íntimos. São 50 horas de conversas com Richard Stengel, quando os dois trabalhavam no livro Longo caminho para a liberdade, e cerca de 20 horas com Ahmed Kathrada, que foi sentenciado junto com Mandela e outros seis condenados à prisão perpétua em 12 de junho de 1964; a terceira parte do livro traz os cadernos mantidos por Mandela. Estão lá os registros de sua viagem pela África e Inglaterra, as notas sobre o aprendizado de táticas revolucionárias e de guerrilha, a busca de apoio de líderes de países que tinham conquistado a independência recentemente e outras anotações anteriores à sua ida para a prisão. Outros cadernos, posteriores à sua libertação, contêm reflexões pessoais, relatórios de reuniões e rascunhos de cartas, entre outras anotações; a quarta parte, por fim, é composta por uma sequência inacabada de Longo caminho para a liberdade. A ideia de uma possível continuação do livro acabou caindo por terra por conta de suas obrigações como presidente da África do Sul e vários outros compromissos. 

Em meio a todo esse material estão desde anotações em agendas que sinalizavam a rotina na prisão até cartas como a endereçada à Universidade da África do Sul, de 1987, em que Mandela pedia a isenção de uma disciplina (enquanto estava na prisão, ele continuou seus estudos e obteve o diploma em Direito em 1989) e emocionantes relatos como a carta que escreveu a suas filhas Zeni e Zindzi, sobre a prisão da mãe delas – e então sua segunda mulher, Winnie – em 1969, e o quanto elas teriam que amadurecer e ser fortes na ausência dos pais: “Mais uma vez sua querida mamãe foi presa e agora ela e papai estão na cadeia. Meu coração sangra quando penso nela sentada numa cela policial longe de casa, talvez sozinha e sem ter alguém com quem conversar e sem nada para ler” , relata. Sobre carta dirigida desta vez a Winnie, Mandela escreve depois de saber da morte do filho dele, Thembi, em um trágico acidente: “minha mente e meus sentimentos estavam agitados pela percepção das tensões que minha ausência de casa havia imposto a meus filhos.” 
 
Num relato direto e absolutamente pessoal, Mandela brinda o leitor com impressões, pensamentos e sentimentos que revelam o todo de um homem comum e, ao mesmo tempo, fascinante. 


Fonte Rocco: Link

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